Um prato que reflete, sobretudo, a hospitalidade. O Guimis, preparado com batatas cozidas adicionadas à couve picada, teve origem nos tempos difíceis do período de colonização alemã. Ele era oferecido aos visitantes ou viajantes mesmo pelos imigrantes mais humildes, e tornou-se símbolo de um caráter íntegro e humanista.
“Dizem que onde é servido o Guimis, há respeito às pessoas e às tradições”, conta Helga Tytlik, coordenadora do projeto de pesquisa sobre a gastronomia teuto-brasileira em Santa Catarina, que resultou em livro, site e documentário revelando histórias como a dessa iguaria e de outros 20 pratos.
Lançado em comemoração ao bicentenário da imigração alemã no Brasil, o projeto Saberes e Fazeres da Gastronomia Germânica – Uma abordagem territorializada percorreu 10 cidades do Estado. Em Blumenau, conheceu o Guimis e o Sauerkraut, o famoso chucrute.
O nome do primeiro vem de uma variação com Gemüse (vegetais, em alemão), recebendo grafia própria a partir de sua fonética: Guimis. A história por trás da receita e a sua simbologia entre os colonos alemães foi narrada à pesquisadora pelo chef Rogério Virches, do Restaurante Vila Germânica.
“Recentemente, aliás, nosso restaurante incorporou o Guimis como item permanente em seu bufê, honrando a cultura e a crença do seu fundador João Rodrigues de Souza, o Jango”, explica o chef. Ele segue com a preparação artesanal, típica da cozinha alemã, elaborando molhos e receitas sem aditivos químicos, apesar da grande quantidade de refeições servidas. Ao prato clássico, acrescentou couve crispy por cima. Em média, 15 quilos de Guimis são produzidos por dia no Restaurante Vila Germânica.
“Nosso resultado confirma que a união de culturas intercontinentais não só garantiu a preservação de costumes dos antepassados, como reinventou as receitas, numa perfeita integração teuto-brasileira”, observa a pesquisadora. Com essa pesquisa, Helga visou mapear toda a cadeia produtiva de pratos ancestrais em estabelecimentos representativos da região.
Novo cardápio
O Restaurante Vila Germânica foi um dos escolhidos por Helga porque traz em seu cardápio receitas que perpetuam o legado cultural e reforçam a identidade da cidade por meio de sabores e saberes que remetem à imigração.
O menu inclui entradas como o Hackepeter (patê de carne moída com condimentos da culinária alemã), o Rollmops (sardinhas envoltas em cebola curtidas na conserva) e o Currywurst (salsichas brancas e vermelhas, batatas fritas e molho), ícones do cardápio tradicional alemão.
Entre os pratos principais, o destaque fica com o Eisbein, o renomado joelho de porco, que é preparado à pururuca pelo chef Rogério. Marreco recheado (cortes de marreco servidos com repolho roxo refogado, purês de batata e de maçã) e Wiener Schnitzel (filé suíno empanado, acompanhado de salsichões branco e vermelho, purê de bata e spätzle, uma massa fresca de ovos e trigo) também são opções que o restaurante disponibiliza todos os dias, com bufê ao meio-dia e serviço à la carte no período noturno.
Como de costume, uma boa refeição termina pela sobremesa, e o chef escolheu manter no cardápio alemão a clássica torta de bolacha e o strudel de maçã. “O restaurante também traz pratos internacionais, como carnes grelhadas na brasa e lanches, além de outras entradas e sobremesas, mas as comidas típicas são a nossa principal atração, tanto pelo sabor quanto pelo modo artesanal de preparo”, finaliza Virches.
Conheça Rogério e Helga
Rogério Virches é autodidata, com 14 anos de experiência em gastronomia. Atualmente, é administrador e gastrônomo da Choperia e Restaurante Vila Germânica. Mantém uma empresa de gestão de restaurantes e já trabalhou com clientes de grande porte, como a Naturas Refeições e o Grupo Belkas Alimentos, de Penha (SC), que atende o Parque Beto Carrero.
Helga Tytlik é consultora em economia criativa e cultura e coordenadora técnica do projeto de gastronomia identitária, que nasceu no coração de Joinville (SC), com a missão de ilustrar o mapeamento da cadeia produtiva de pratos com raízes germânicas em Santa Catarina e identificar o legado imaterial deixado pelos imigrantes.
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