O que o debate recente sobre o Pix pode nos ensinar sobre nossas emoções

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Lamentavelmente, os golpes financeiros, especialmente aqueles que exploram o Pix, têm se tornado cada vez mais comuns. Para compreendermos por que tantas pessoas são vítimas, é fundamental analisar os fatores emocionais e sociais que nos tornam vulneráveis. Como sociedade, estamos vivendo em um estado de “automático”, um modo de funcionamento que facilita a tomada de decisões rápidas, mas também nos expõe a riscos. 

Quem não se viu nos últimos 12 meses pagando uma conta no app do banco, automaticamente, enquanto estava em um call com cliente ou em uma chamada com o seu time? Situações como essas são cada vez menos raras. Respondemos e-mails com um “Ok, pode dar sequência”, enquanto falamos com um fornecedor sobre especificidades de um produto. Não é segredo dizer que, em algum momento, o carro bate. 

O psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel, descreveu dois sistemas de pensamento em seu livro “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar”. O Sistema 1 é responsável por decisões intuitivas e rápidas, enquanto o Sistema 2 é mais lento e analítico. 

Educadora financeira Luciana Pavan fala sobre a polêmica relacionada ao Pix e ainda orienta sobre 4 tipos de golpes muito comuns. Divulgação

Em 95% do tempo, operamos no Sistema 1, isto é, muitas de nossas ações são automáticas, sem a devida reflexão. Isso explica porque golpes que simulam situações familiares ou urgentes são tão eficazes. Uma mensagem que parece vir de um banco, de uma empresa que você conhece ou mesmo de um amigo pode enganar rapidamente nosso sistema intuitivo. Certamente, conhecemos alguém que mordeu a isca – quando não nós mesmos.

Quatro principais tipos de golpes

Os golpes financeiros geralmente exploram quatro grandes vulnerabilidades:

Carência afetiva: Golpistas criam relações falsas em redes sociais ou aplicativos de relacionamento. Após ganhar a confiança da vítima, pedem dinheiro ou favores financeiros. Casos extremos incluem pessoas que perderam grandes somas para golpistas que usaram até mesmo inteligência artificial para criar perfis e fotos falsas.

Promessas de dinheiro fácil: Ofertas de investimentos com retornos milagrosos, como triplicar o valor investido em curto prazo, atraem pelo viés do otimismo excessivo. Muitas vezes, a credibilidade do golpista é reforçada por uma relação próxima, como ser amigo de um conhecido.

Economia milagrosa: Propostas tentadoras de serviços ou produtos por preços muito baixos. Um exemplo recente envolveu o hackeamento do WhatsApp de um salão de cabeleireiro, onde golpistas vendiam pacotes de cortes com preços “promoçionais”, exigindo pagamento imediato via Pix.

Pagamentos falsos: Esse tipo envolve cobranças inexistentes, como boletos de impostos ou taxas sobre o Pix. Mesmo valores pequenos podem enganar, como o caso de idosos que foram cobrados por supostas taxas de entrega de exames.

Como evitar golpes?

A principal estratégia é desacelerar o processo de tomada de decisão. Pergunte-se: “Isso é verdadeiro?” ou até mesmo “Preciso, de fato, responder isso agora?”. Verifique informações em canais oficiais, como sites de empresas ou órgãos reguladores. Mesmo mensagens vindas de amigos ou familiares podem ser suspeitas, pois contas hackeadas são frequentemente usadas em golpes.

No contexto do Pix, aplique as mesmas precauções que você adota para outros meios de pagamento. Configure limites de transferência, salve contatos frequentes e desconfie de transações que pareçam fora do comum. Essas medidas ajudam a equilibrar a praticidade do Pix com a segurança necessária.

Desinformação e fakenews

Recentemente, vimos o impacto negativo da desinformação. A Receita Federal precisou revogar novas regras para o funcionamento do Pix devido ao barulho gerado por fakenews. É inaceitável que o Ministro da Fazenda precise gastar tempo desmentindo boatos, mas essa é uma consequência da polarização e do uso político da desinformção. Como cidadãos, cabe a nós checar fontes confiáveis antes de compartilhar informações.

Educação financeira como solução

A educação financeira pode reduzir a vulnerabilidade a golpes. Introduzida nas escolas, ela ajudaria adolescentes a identificar riscos e a tomar decisões conscientes desde cedo. Com o tempo, criamos uma população mais preparada para lidar com fraudes.

No caso dos idosos, é crucial envolvê-los em redes de apoio. Familiares podem ajudar, incentivando-os a consultar alguém de confiança antes de realizar pagamentos ou compartilhar informações pessoais. Golpes direcionados à terceira idade costumam ser muito bem planejados, explorando contextos que parecem reais, como ligações que simulam bancos ou laboratórios.

Sobre o 90 Segundos de Finanças:

O 90 Segundos de Finanças é uma plataforma de conteúdo sobre educação financeira, que foi idealizada pela mentora e educadora Luciana Pavan. Atualmente, oferece diversas soluções, como vídeos curtos e gratuitos no YouTube (em geral com duração de 90 segundos), cursos, palestras, lives e consultorias. Sua proposta é democratizar o acesso à gestão das finanças para mais e mais indivíduos.

Luciana Pavan é especialista em Economia Comportamental pela London School of Economics (LSE). Fundadora do canal 90 Segundos de Finanças, dedica-se a melhorar a relação de pessoas com o dinheiro por meio de cursos, palestras e consultoria desde 2016. Atuou por mais de 2 anos na fintech Olivia AI, onde foi responsável por desenvolver todos os conteúdos do aplicativo no Brasil, Estados Unidos e Irlanda. Atuou por 2 anos no PFM de um dos maiores bancos da América Latina, como Especialista em Finanças Pessoais na Zup Innovation, e foi membro do Conselho da ONG Multiplicando Sonhos (de educação financeira para jovens de escolas públicas) por 4 anos.

1 comentário em “O que o debate recente sobre o Pix pode nos ensinar sobre nossas emoções”

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